Nesse capítulo, Jesus descreve as pessoas como perdidas, não como pecadoras. A ênfase está na condição de estar perdido, não nos atos. Ele olha para a pessoa, não para as obras.
Dando uma olhada mais de perto.
De que forma cada protagonista é diferente? A ovelha desgarrada se desviou. Em busca de pastos mais verdes, perdeu de vista o rebanho. Talvez tenha escorregado e ficado presa num espinheiro. Quando gritou por ajuda, ficou surpresa em se ver sozinha. À medida que se desvanecia a luz do dia, animais selvagens começaram a perambular por perto.
Na segunda história, a moeda é perdida não por sua própria culpa. Ela não fugiu para um canto e se escondeu debaixo de um cesto ou de algum outro objeto. A pessoa que devia protegê-la tratou-a de maneira descuidada ou perdeu-a acidentalmente. Seja qual for a razão, a pessoa responsável por ela falhou.
A terceira história é sobre dois filhos perdidos – um que deliberadamente desafiou a cultura e a família e buscou sua independência num país distante, e outro que se extraviou na atitude enquanto permanecia em casa.
As três histórias falam sobre separação – do pastor, da pessoa responsável e do pai. Também refletem solidão – do pastor com 99 ovelhas, da pessoa responsável pelas nove moedas, e do pai que ficou esperando e observando enquanto filhos queridos lutavam para resolver relacionamentos.
A ação é um tema chave. Em cada história, os perdidos são procurados. O pastor, a pessoa responsável e o pai procuraram ativamente os perdidos. Eles se importaram com os perdidos e experimentaram um profundo vazio que não poderia ser preenchido até que os perdidos fossem encontrados.
O epílogo.
Cada uma das histórias acaba com uma festa. Lucas 15 pinta um quadro de alegria. “Não pensamos facilmente em Deus como alguém alegre, e consequentemente nossa teologia é rígida, dura e formalista. Contudo, a figura que Jesus nos dá nas três histórias é a de um Deus que gosta de festas! É Jesus quem dá as festas para os pecadores e os rejeitados. É Deus quem inicia as festas. Mais espaço é dado no texto para a alegria, para o regozijo e para as festas do que para qualquer dos outros três conceitos [estar perdido, ser procurado e ser encontrado]. Com um amor tão incansável, como poderia ser diferente? E o segundo fruto do Espírito, a alegria, não é resultado do amor?”1
Por que Deus passa tanto tempo comemorando a recuperação do perdido? “São o dono da ovelha, a dona da moeda e o pai em espera que mais sofrem. É Deus quem mais sofre quando estamos perdidos, mas também é Deus quem mais Se regozija quando o perdido é encontrado. ... Deus gosta de festas!”2
Quantas vezes lemos Lucas 15 e deixamos de perceber essa ideia? Eu me aventuraria a dizer que a maioria das palavras escritas sobre Lucas 15 – se não quase todas elas – refletem a perspectiva narcisista dos seres humanos. Bem poucos já pensaram a respeito de como Deus deve Se sentir sobre Seus filhos e filhas que vagueiam no deserto de um país distante, muito longe do Jardim do Éden, e sendo obrigados a consumir o que os porcos se recusam a comer. Deus proporcionou abundância. Nós escolhemos refugo. Como o coração dEle deve doer! Ele anseia tanto nos dar o dom da alegria, e teimosamente insistimos, como uma criança de dois anos, querendo fazer as coisas a nosso modo.
C. S. Lewis (1898-1963) escreveu sobre sua jornada do ateísmo ao cristianismo. Ele se lembra do forte, mas passageiro sentimento de alegria de quando era garoto e seu irmão lhe mostrou a representação de um jardim na tampa de uma lata. Houve outras ocasiões em que ele experimentou o anseio por algo que não conseguia dizer o que era. Olhando para trás, ele se convenceu de que Deus estava usando essas “flechas de alegria [que] haviam sido atiradas em mim desde a infância” para perfurar sua absorção consigo mesmo, para inspirá-lo a olhar para além do imediato a fim de ver a fonte da alegria eterna – Deus.
A conversão dele ocorreu ao longo de um período de anos. Apesar de seus sentimentos misturados, a alegria predominou. “De certa forma, a história central da minha vida não é sobre outra coisa... é a de um desejo não satisfeito. Porém, ele é mais desejável que qualquer outra satisfação. Chamo-o de Alegria, que aqui é um termo técnico e precisa ser agudamente distinguido tanto de Felicidade quanto de Prazer.”3
1. Caleb Rosado, What Is God Like? Renew Your Acquaintance With a Compassionate God (Hagerstown, Maryland: Review and Herald Publishing Association, 1988), p. 46.
2. Ibid., p. 57.
3. C. S. Lewis, Surpreendido Pela Alegria (São Paulo: Ed. Mundo Cristão, 1998), p. 23-25.
Mãos à Bíblia |
A fim de entender completamente a alegria do cristão, devemos examinar o estilo de vida cheio de alegria de Cristo. De onde vinha a alegria dEle? Quais eram os princípios pelos quais Ele vivia? 2. Que papel tinha a alegria em três das parábolas mais populares que Jesus contou? Qual é o elemento comum nas três histórias? a. A ovelha perdida (Lc 15:4-7) - Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la?Achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo. E, indo para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. b. A moeda perdida (Lc 15:8-10) - Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, não acende a candeia, varre a casa e a procura diligentemente até encontrá-la? E, tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido. Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende. c. O filho pródigo (Lc 15:11-24) - Continuou: Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres. Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente. Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade. Então, ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a guardar porcos. Ali, desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada. Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se. Essas três parábolas nos dão um vislumbre do coração de Deus. É um coração disposto a celebrar. É a pura alegria de Deus, alegria de alcançar os perdidos. Não é de admirar que, apesar de Suas provações e sofrimento, Jesus estava ungido de alegria, pois Ele sabia que por causa do que realizaria muitos seriam salvos. |
Monte Sahlin | Springboro, EUA
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